Este artigo é uma faca de dois gumes: por um lado você vai valorizar mais o trabalho do seu arquiteto, mas por outro também descobrirá o que está comprando e ficará mais exigente com ele!
Sejamos honestos: quem nunca tentou rascunhar pelo menos a planta da casa por conta própria? Parece tão simples, afinal é só um desenho e como dizem, de médico, arquiteto e louco todo mundo tem um pouco!
Pois saiba que há muito mais por trás de um projeto de arquitetura do que a sua vã imaginação pode alcançar… 🙂
Brincadeiras à parte, veja uma breve pincelada do que vem embutido num projeto de arquitetura profissional e entenda um pouco pra quê existem os arquitetos.
Arquitetura não é escultura!
Anos atrás tive que ouvir de um eletricista: “não gosto de trabalhar com arquitetos, porque eles só se preocupam com a boniteza” (!). “Tadinho” pensei, não faz idéia do que é um arquiteto. Mas depois fiquei me perguntando quanta gente pensa como ele.
Se fosse assim, não construiríamos edificações, mas apenas esculturas gigantes!
Pense bem: qual a diferença entre uma casa e uma escultura do tamanho de uma casa? A escultura é feita para ser apreciada. A casa também, claro, mas antes disso é feita para MORAR. Verbo difícil de definir, não é?
O que é morar pra você? Ter um lugar onde você se sinta seguro, confortável física e emocionalmente, abrigado, aconchegado, mas ao mesmo tempo um lugar que tenha sua cara, ou seja, com que você se identifique. Só a questão da identidade já dá um artigo inteiro.
Sob medida. Já fez seu programa de projeto?
Mas já que tocamos no assunto… o que te leva a contratar um projeto de arquitetura para sua casa ao invés de comprar uma pronta? Você quer que sua casa seja “moldada” pra você!
Que atenda suas necessidades específicas, sejam elas
- estéticas – o que você gosta, acha bonito?
- sensoriais – de que sensações espaciais você gosta? Muita luz e pé-direito alto? Ou uma coisa mais inimista e cores quentes? Materiais naturais, madeira, pedras rústicas?
- emocionais – as janelas grandes te fazem lembrar o aconchego da casa da sua avó? Você precisa poder ver lá fora sem abrir a porta para se sentir seguro?
- funcionais – Você gosta de cozinhar e quer uma cozinha funcional? Seus filhos são pequenos e você quer ouvi-los enquanto trabalha no home office?
- relacionais – Você quer um dormitório grande para que seus filhos todos se juntem lá nas manhãs de domingo? Seus pais morarão com você e precisam de privacidade? Você gosta de receber muita gente e precisa de um espaço bom pra isso?
- físicas – sua avó mora com você e não pode subir escadas? Você trabalha à noite e só dorme bem se seu quarto estiver totalmente escuro, mesmo de dia?
- (melhor parar por aqui senão o artigo só falará disso!)
Como você pode ver, seu arquiteto precisa aprender bastante sobre você antes de começar o projeto. E para ele acertar nessa parte é essencial que você invista algum tempo refletindo sobre como você quer MORAR. Veja NESTE ARTIGO um pouco mais sobre como fazer essa reflexão e preparar seu Programa de Projeto.
Conforto ambiental é muito mais que conforto
Se você pensou que eu falaria sobre temperatura, acertou! Em parte.
Conforto ambiental em arquitetura não é prever ar condicionado no projeto, mas projetar ambientes que não precisem de ar condicionado para você se sentir confortável dentro dele! Ou pelo menos precise o mínimo possível.
Conforto ambiental é você ter luz suficiente para ver bem, mas sem ofuscar. Luz aconchegante, mas sem escurecer demais. Brisa gostosa no verão, mas sem deixar a chuva entrar. Uma escada suave para subir, armários fáceis de alcançar, portas leves para abrir e fechar, e que não batam forte quando ventar.
Conforto ambiental é não deixar o barulho do trânsito entrar, mas sim o das crianças brincando no quintal. É dormir no silêncio do seu quarto enquanto a moçada assiste a um filme de faroeste na sala ao lado. É andar descalço dentro de casa sem sentir frio. É tomar um banho inteiro sem sobressaltos com a temperatura da água. É não ter que agachar demais para escovar os dentes, nem ter que entrar embaixo da mesa do escritório para ligar o carregador do celular na tomada.
Aliás, veja NESTE ARTIGO dicas de tomadas que costumamos esquecer de incluir no projeto.
Segurança
Se você pensou que eu iria falar sobre uma casa segura contra invasores… bem, o arquiteto tem que pensar nisso também, claro! Não só invasores humanos, como de outras espécies também!
Mas não era dessa segurança que eu ia falar não. É da sua segurança ao usar a casa, ao MORAR. Segurança de corrimãos na altura certa ao subir a escada, e a escada com todos os degraus igualzinhos para você não tropeçar!
Segurança de parapeitos com a distância certa entre as barras, para seu filho não prender a cabecinha entre elas. Do visor na porta vai-e-vem para ninguém ser atropelado por ela. Do piso antiderrapante para evitar escorregões no banheiro. Da barra de apoio no chuveiro da grávida e do idoso. Das tomadas longe da água. Dos disjuntores longe das crianças. Capisce?
Custos da obra… e de depois da obra!
Já cansou? Mas ainda tem mais! Muito mais!
Ao projetar sua casa, o arquiteto tem que olhar tudo isso ao mesmo tempo, e atender essas necessidades todas dentro do seu orçamento! Lógico… de nada adianta escolher acabamentos bacanas, espaços amplos e confortáveis e altas tecnologias de segurança se depois você não conseguirá arcar com a construção da casa!
Como se não bastasse, o projeto ainda vai determinar quanto vai custar MANTER a sua casa funcionando e habitável. Materiais duráveis, com resistência adequada para o uso que será dado a eles é o primeiro item que vem à cabeça, mas não é só disso que estou falando.
Decisões de projeto determinarão quanto custará sua conta de luz por anos. Aliás, veja NESTE ARTIGO como economizar energia decidindo certo ainda no projeto, e NESTE sobre escolhas certas na iluminação que devem ser tomadas ainda no projeto.
Também determinarão o consumo de água da sua casa (veja artigo sobre como escolher seu aquecedor de água AQUI) e até mesmo seu custo com faxineiros e materiais de limpeza! Dê uma olhada NESTE ARTIGO sobre como decorar para uma casa mais fácil de manter limpa.
Leis, normas e regulamentações
Além de caber no seu bolso, o projeto que o arquiteto vai fazer da sua casa deve atender às legislações e normativos, que não são poucos.
Há leis que referem a projetos e construção de casas em todas as esferas: federal, estadual e principalmente municipal. E não é só sobre uso e ocupação do solo, mas também do ponto de vista sanitário, de acessibilidade, segurança elétrica, sustentabilidade, dimensionamento hidráulico, para citar apenas alguns.
Super visão 10D
Como você pode ver, não é a toa que existe uma definição popular para o arquiteto que diz: arquiteto não sabe profundamente sobre nada, mas sabe um pouco de tudo!
Verdade: na minha visão, o maior mérito dos bons arquitetos e arquitetas é sua capacidade de desenvolver um projeto específico, mas ao mesmo tempo considerando de forma sistêmica (ou holística, se você preferir essa palavra) uma quantidade e variedade enorme de fatores que poderão cada um determinar o sucesso ou fracasso do projeto.
Arquiteto poliglota
E porque o projeto arquitetônico agrega tantas áreas diferentes do conhecimento, o arquiteto precisa saber conversar com os mais diversos profissionais, das mais variadas formações e níveis de formação também. Do pedreiro que mal escreve o próprio nome ao engenheiro pós-graduado, do jardineiro ao paisagista, do marceneiro ao decorador.
O arquiteto precisa dominar a linguagem de cada um deles para poder defender adequadamente os interesses de você, seu cliente, nas tomadas de decisão nas diferentes etapas do projeto e da obra.
Ah sim! Ia esquecendo… arquitetos também desenham! Mas como você pôde ver ao longo do artigo, essa é uma pequena habilidade básica, uma ferramenta como saber escrever ou somar e multiplicar.
Eu pretendia explicar a você como funciona a contratação de um profissional para fazer o projeto de arquitetura da sua casa, mas o artigo está muito longo. Façamos assim: publicarei outro artigo específico sobre isso e até lá você pode dar uma espiada NESTE ARTIGO que já está no ar sobre contratação do paisagista. O processo é mais ou menos parecido.
Antes de me despedir, uma advertência: não deixe de fazer seus rascunhos da planta não! Fazer esses rabiscos vão te ajudar a refletir sobre o Programa de Projeto e também contribuirão para seu arquiteto compreender bem suas necessidades.
Mostre pra ele sem medo! Se ele for um bom arquiteto, vai gostar de ver, pedir pra você explicar e aproveitar seus desenhos para te conhecer melhor.